22 de jan. de 2011

O legado de Lula e os desafios do novo governo

Ao tomar posse, Dilma herdará dois Brasis: um repleto de conquistas e outro que precisa de ajustes econômicos, políticos e sociais

Quando colocar a faixa presidencial sobre o ombro de Dilma Rousseff, Luiz Inácio Lula da Silva estará entregando à sucessora um governo e dois países bem distintos. Há um Brasil repleto de conquistas econômicas, políticas e sociais que precisam ser mantidas ou ampliadas. É o Brasil que pede pé embaixo no acelerador. E há outro Brasil precisando de ajustes econômicos, políticos e sociais,
 alguns deles urgentes. É o Brasil do freio de arrumação. Administrar esta contradição, com o agravante de que seu antecessor é seu padrinho político, constitui o grande desafio da presidenta eleita.
O Brasil do pé embaixo no acelerador deverá encerrar 2010 com um crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) acima de 7%, a maior alta registrada desde os anos 70. A taxa de desemprego das principais regiões metropolitanas, que em 2002 beirava os 12%, praticamente caiu à metade nos últimos oito anos. No mesmo período, o salário mínimo mais do que dobrou. O número de beneficiários dos programas sociais quadruplicou. Cerca de 32 milhões de brasileiros foram incorporados à classe média. A compra de carros e imóveis disparou.

Dilma ao lado de Lula, antes da primeira entrevista depois de eleita
Dilma iniciará seu mandato sem nenhuma crise econômica à vista. O País quitou o que devia ao Fundo Monetário Internacional. Tornou-se um credor, deixando para trás a marca da dívida externa como uma mancha perene sobre a sua economia. Receberá ainda o estímulo adicional de bilhões de dólares a serem gastos com a exploração do petróleo do pré-sal e com as obras de infraestrutura para a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016.
 A tais ingredientes, somam-se outros, como a redução da natalidade e o chamado bônus demográfico - quando a maior parte da população economicamente ativa supera largamente a de dependentes, composta por idosos e crianças. É uma condição propícia ao desenvolvimento de uma economia. Por exemplo, a reconstrução da Europa e do Japão, no período do pós-guerra, foi facilitada pelo fato de ambas as regiões passarem por um bônus demográfico.

Esses dados alimentam a avaliação de que o Brasil tem condições de se sobressair na cena internacional nos próximos anos. Para o Nobel de economia Edward Prescott, “o Brasil entrará no rol dos países industrializados e será uma nação rica”.

O Brasil do pé embaixo no acelerador foi construído sem a utilização de todas as boas práticas de gestão pública. Resultado: caiu no colo de Dilma Rousseff a tarefa de corrigir vários erros que parecem pequenos hoje, mas que podem se tornar graves se nada for feito. Especialistas em administração pública acreditam que Dilma precisará recorrer ao freio de arrumação em várias áreas. Serão freadas parcimoniosas, mas firmes. Essenciais para que o Brasil não saia dos trilhos, perdendo-se numa espiral inflacionária. A durabilidade do avanço dependerá de alguns fatores, como a preservação do alicerce da estabilidade macroeconômica e a promoção de reformas estruturais que sustentem o crescimento do País.

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